VIRTUALIDADE MUSICAL
GORILLAZ: FENÓMENO EFÉMERO OU REVOLUÇÃO FUNDAMENTAL?
Até que ponto não é a música o núcleo de todo um universo virtual? Desde a criação dos efémeros fenómenos comummente designados por boysband, girlsband e afins, através de inteligentes processos de marketing, até aos mitos que se formam com a morte inesperada de estrelas promissoras, muitas seriam as vertentes que poderia abordar acerca deste tema. Mas tendo em conta a realidade musical que se vive actualmente, seria mais do que lógico debruçar-me sobre um fenómeno que tem vindo a registar uma aderência talvez inesperada. De facto, se na cena musical, a propósito de diversos aspectos se pode invocar a palavra “virtual”, ela encontra nos Gorillaz a sua aplicação perfeita.
Os Gorillaz não são pioneiros no conceito que nos propõem. Na realidade, já existiam outras bandas e cantores virtuais, que nos remetem para o que se pode apelidar de “equivalente da Manga na música”. A diferença reside no facto de que eles foram os primeiros a atingir este tipo de sucesso à escala mundial. E este sucesso não é concerteza fruto do acaso. Muito pelo contrário, este projecto baseia-se numa fantástica campanha de marketing, que tem como intuito principal, para além da divulgação da música dos Gorillaz (como é óbvio), vender inúmeros produtos baseados na imagem deste grupo e no impacto que conseguiram obter em todo o mundo. Assim, desde as tradicionais t-shirts, posters e autocolantes às longas-metragens e jogos de vídeo, bem como uma série de outro merchandising, tudo vale num mundo essencialmente comercial. Desta forma, conseguiram revolucionar o mercado através da negação da “receita tradicional para o sucesso” – uma carinha bonita, uns passos de dança e a devida publicidade – obtendo uma enorme aceitação por parte de um público mais alternativo. Mas o seu sucesso não se baseia apenas em marketing, visto que a sua componente principal assenta na qualidade da música produzida por esta banda.
Por detrás deste projecto musical, podemos encontrar nomes como Damon Albarn (que encarna a personagem 2D), Dan “The Automator” Nakamura (Murdoc), Del Tha Funkee Homosapien (Russel) e Miho Hatori (Noodle), se bem que na realidade há muitas outras pessoas directamente envolvidas. A sonoridade dos Gorillaz abrange uma multiplicidade de influências, desde o pop, hip-hop e dub, a uns laivos de música cubana, podendo mesmo distinguir-se o noise rock e o reggae, conjugados numa brilhante produção, onde a doce voz de 2D deixa transparecer um lado mais pueril e mesmo naïve. A prova do seu alargado sucesso é sustentada pela enorme quantidade de prémios e nomeações de que têm vindo a ser alvo.
Ao “esconderem-se” por detrás de quatro bonecos tipicamente BD, os autores deste projecto deram origem a um universo virtual. O facto de actuarem ao vivo por detrás de uma tela onde são projectadas imagens, enfatiza essa atmosfera de virtualidade. Assim surgem biografias criadas para cada um dos membros, bem como um role de notícias e boatos acerca deles, como se 2D, Murdoc, Noodle e Russel fossem tão reais como qualquer outra personalidade musical.
Quanto a mim, só posso deixar ficar uma última questão: serão os Gorillaz apenas mais um efémero fenómeno pop (não deixando por isso de ter lugar de destaque no panorama musical), ou serão eles capazes de criar as bases necessárias para sustentar um projecto a longo prazo? Virtualmente falando, tudo é possível.
Cátia Monteiro
2001-10-31
_______________________________________________________________________________________
Este vem directamente da secção de oldies :-)Foi escrito em 2001 para um projecto que acabou por não arrancar, de verdadeiramente virtual, o Ponto.Com. Fica o esforço que serviu de esboço (ou esquisso) para divagações futuras. E confesso: não tenho ouvido muito o álbum dos Gorillaz... Mas continuo a admirar o Damon Albarn, incontestavelmente músico, compositor e cantor de abrangências diversas e qualitativamente bem cotadas.
Parece-me que o último parágrafo do texto está mesmo a pedir uma resposta. Deixo o mote à interactividade bloguesiana!
Até que ponto não é a música o núcleo de todo um universo virtual? Desde a criação dos efémeros fenómenos comummente designados por boysband, girlsband e afins, através de inteligentes processos de marketing, até aos mitos que se formam com a morte inesperada de estrelas promissoras, muitas seriam as vertentes que poderia abordar acerca deste tema. Mas tendo em conta a realidade musical que se vive actualmente, seria mais do que lógico debruçar-me sobre um fenómeno que tem vindo a registar uma aderência talvez inesperada. De facto, se na cena musical, a propósito de diversos aspectos se pode invocar a palavra “virtual”, ela encontra nos Gorillaz a sua aplicação perfeita.
Os Gorillaz não são pioneiros no conceito que nos propõem. Na realidade, já existiam outras bandas e cantores virtuais, que nos remetem para o que se pode apelidar de “equivalente da Manga na música”. A diferença reside no facto de que eles foram os primeiros a atingir este tipo de sucesso à escala mundial. E este sucesso não é concerteza fruto do acaso. Muito pelo contrário, este projecto baseia-se numa fantástica campanha de marketing, que tem como intuito principal, para além da divulgação da música dos Gorillaz (como é óbvio), vender inúmeros produtos baseados na imagem deste grupo e no impacto que conseguiram obter em todo o mundo. Assim, desde as tradicionais t-shirts, posters e autocolantes às longas-metragens e jogos de vídeo, bem como uma série de outro merchandising, tudo vale num mundo essencialmente comercial. Desta forma, conseguiram revolucionar o mercado através da negação da “receita tradicional para o sucesso” – uma carinha bonita, uns passos de dança e a devida publicidade – obtendo uma enorme aceitação por parte de um público mais alternativo. Mas o seu sucesso não se baseia apenas em marketing, visto que a sua componente principal assenta na qualidade da música produzida por esta banda.
Por detrás deste projecto musical, podemos encontrar nomes como Damon Albarn (que encarna a personagem 2D), Dan “The Automator” Nakamura (Murdoc), Del Tha Funkee Homosapien (Russel) e Miho Hatori (Noodle), se bem que na realidade há muitas outras pessoas directamente envolvidas. A sonoridade dos Gorillaz abrange uma multiplicidade de influências, desde o pop, hip-hop e dub, a uns laivos de música cubana, podendo mesmo distinguir-se o noise rock e o reggae, conjugados numa brilhante produção, onde a doce voz de 2D deixa transparecer um lado mais pueril e mesmo naïve. A prova do seu alargado sucesso é sustentada pela enorme quantidade de prémios e nomeações de que têm vindo a ser alvo.
Ao “esconderem-se” por detrás de quatro bonecos tipicamente BD, os autores deste projecto deram origem a um universo virtual. O facto de actuarem ao vivo por detrás de uma tela onde são projectadas imagens, enfatiza essa atmosfera de virtualidade. Assim surgem biografias criadas para cada um dos membros, bem como um role de notícias e boatos acerca deles, como se 2D, Murdoc, Noodle e Russel fossem tão reais como qualquer outra personalidade musical.
Quanto a mim, só posso deixar ficar uma última questão: serão os Gorillaz apenas mais um efémero fenómeno pop (não deixando por isso de ter lugar de destaque no panorama musical), ou serão eles capazes de criar as bases necessárias para sustentar um projecto a longo prazo? Virtualmente falando, tudo é possível.
Cátia Monteiro
2001-10-31
_______________________________________________________________________________________
Este vem directamente da secção de oldies :-)Foi escrito em 2001 para um projecto que acabou por não arrancar, de verdadeiramente virtual, o Ponto.Com. Fica o esforço que serviu de esboço (ou esquisso) para divagações futuras. E confesso: não tenho ouvido muito o álbum dos Gorillaz... Mas continuo a admirar o Damon Albarn, incontestavelmente músico, compositor e cantor de abrangências diversas e qualitativamente bem cotadas.
Parece-me que o último parágrafo do texto está mesmo a pedir uma resposta. Deixo o mote à interactividade bloguesiana!
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home