melomanias, etc.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Copy -> Paste #3

"«A dicotomia masculino / feminino não tem qualquer realidade intrínseca biológica», conclui-se de uma série de artigos recentes sobre a masculinidade, cujos autores falam não só dos traços específicos do sexo (diferenças cognitivas, por exemplo), mas também das diferenças vistas por muitos teóricos académicos como o produto de um «discurso» de biólogos. «Por outras palavras, os seres humanos são responsáveis pela sua própria divisão em «masculinos» e «femininos», a qual não passa de um «tropo» heterossexista, um produto linguístico. Então e as diferenças óbvias - na estrutura genital, por exemplo? Nós é que as considerámos como a linha divisória entre os dois sexos, mas, na minha opinião, isto vai longe demais na direcção de um arrogante homocentrismo (um velho impulso sob a forma de uma nova «linguistica»), que retira completamente o ser humano do quadro evolucionista.

Uma aproximação final, que Wrangham Peterson defendeu e que traduz o meu ponto de vista, é reconhecer que a nossa própria herança biológica permite uma grande dose de criatividade e inteligência em que ambos os sexos se adaptam aos novos ambientes e às novas metas. Isto significa que a biologia evolucionista pode esperar que a «natureza» masculina e feminina sejam moldadas pea diversidade dos ambientes humanos em interacção com as hormonas, com a morfologia física e por aí fora, e também que precisamos de estudar o contexto e as vias - comparações com outros primatas, análise das pressões ambientais, etc. - a fim de acedermos inteligentemente aos caminhos que ainda não escolhemos e que podem estar disponíveis. (...)

«As mulheres são de Vénus e os homens são de Marte» - e todos aqueles encorajamentos para os homens olharem as mulheres como uma espécie estranha, e eles próprios como monstros impulsionados pela testosterona, que só os seus «irmãos» compreendem verdadeiramente - não será uma auto-realização, antes pode ser prejudicial tanto para homens como para as mulheres. William Pollack enumerou os custos psicológicos para os rapazes caso se insista em separá-los prematuramente das mães para se tornarem fortes e se identificarem exclusivamente como pequenos machos. E quando os homens crescerem isolados e vinculados a uma «cultura» masculina, cujo objectivo é «deixar os rapazes serem rapazes», olhando as mulheres - aquelas criaturas estranhas - com perplexidade, ansiedade e às vezes desprezo, coisas más podem acontecer a estas últimas.

Isto não significa ignorar as necessidades específicas, capacidades, desafios e prazeres dos rapazes - ou homens. Podemos admirar os atletas sem os transformar em machos agressivos de uma tribo primitiva e encontrar beleza no corpo musculado masculino sem celebrarmos «o regresso do homem alfa». E podemos também permitir que os rapazes lutem e compitam ferozmente sem reconhecer que existe um «instinto de conquista» implantado nos seus genes."
by Susan Bordo, in O Corpo do Homem