melomanias, etc.

segunda-feira, abril 21, 2008

Matiné de domingo

Ou como Rock ‘n’ Roll de Tom Stoppard sempre é melhor do que ficar a curar a ressaca na cama.

O sub-título do post? Deriva do estranhar perante tão pouca gente < 30s presente na sessão de ontem da peça (em exibição no Teatro Aberto). A explicação mais provável? Ficaram na cama a recuperar da noitada de sábado. Os domingos na capital deviam ser mais (re)activos. Mas isso fica para outra discussão.

A peça. Escrita de forma inteligente, aprofunda vários temas em terreno estudado e familiar ao autor. Isso torna-se claro quando, no cruzamento entre música, política, referências históricas e culturais diversas – ou ainda uma discussão que relaciona sentimentos e neurologia que poderia ter servido de introdução a um dos livros de António Damásio – não há deslizes. Ao invés de uma procura desproporcionada no sentido de albergar todos os temas e mais algum dentro de uma peça, reconhece-se um esforço de conciliar a vida e os discursos sobre a mesma num plano comum de análise.

E por isso esta história de lados-a e lados-b em modo music meets politics não soa a pastiche. Todos os elementos se interligam com naturalidade num discurso coerente. E esta naturalidade é conseguida quer pela forma como o discurso é dirigido, quer pela fonte desse discurso.

Assim, o percurso do autor funde-se com a obra. A acção decorre entre a Grã Bretanha e a República Checa; Stoppard é um britânico nascido em solo checo. Jan é o protagonista; Jan é alter-ego de Stoppard. Havel é uma das figuras da revolução Checa anti-comunista retratada; Havel é amigo de Stoppard e compareceu na estreia da peça em Londres. Stoppard tece uma crítica à carência de objectividade jornalística (sendo que esta se manifesta quer sob a alçada da política, quer quando sujeita às forças comerciais); Stoppard começou a sua carreira como jornalista num diário de Bristol. A lista continua. The point is made.

Rock ‘n’ Roll apenas formalmente é ficção. Em tudo o resto é uma peça motivada pelo anseio de alguém que tem uma história para contar. A história da sua vida. Ao que parece, Stoppard seguiu à letra uma das dicas mais valiosas passadas aos artífices da escrita: ‘fala sobre o que conheces’. Alguém pediu autenticidade?



PS: o título e sub-título, desgarrados do texto subsequente, eram apenas uma forma menos do que mais subtil de dizer: IMPERDÍVEL – para quem aprecia o género, acrescenta o particularista de serviço.

1 Comments:

  • Boa crítica...tem graça que também vi a peça num domingo à tarde com uma ressaca tremenda em cima :p
    Gostei muito mas há demasiada política e pouco Rock ‘n’ Roll..

    By Blogger Dissid3nt, @ 8:36 da tarde  

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