melomanias, etc.

quarta-feira, abril 13, 2005

Unmasking the Mask

Em «Saraband» Ingmar Bergman explora com habilidade o lado emocional das personagens. As estratégias e subterfúgios de cada um para fugir a confrontações consigo próprio ou com aqueles, que sendo os mais próximos, são em simultâneo os mais distanciados. Fugas mais ou menos inconscientes que são aqui encaixadas numa narrativa coerente e de dramatismo crescente.

Se por um lado a ausência de máscaras invoca a vulnerabilidade, ao recorrermos a elas entramos num perigoso jogo cujo resultado pode em última análise ser o oposto do que desejamos. Neste filme de Bergman são aqueles que ousam mostrar a sua verdadeira face - ou aquilo que de mais próximo se consegue vislumbrar - que conseguem em última instância obter um qualquer tipo de paz interior, ou de maior aceitação do mundo. Até que ponto a máscara que colocamos para nos proteger dos outros acaba por se tornar no espelho o reflexo da nossa própria face? Quando nem perante nós próprios temos a coragem de ser o que somos...

Em 1918 Fernando Pessoa publicou algo como:

"How many masks wear we, and undermasks,
Upon our countenance of soul, and when,
If for self-sport the soul itself unmasks,
Knows it the last mask off and the face plain?
The true mask feels no inside to the mask
But looks out of the mask by co-masked eyes.
Whatever conciousness begins the task
The task's accepted use to sleepness ties.
Like a child frighted by its mirrored faces,
Our souls, that children are, being thought-losing,
Foist otherness upon their seen grimaces
And get a whole world on their forgot causing;
And, when a thought would unmask our soul's masking,
Itself goes not unmasked to the unmasking."