Fomos Todos Absolvidos
Oito e vinte da noite , mais coisa menos coisa, é a hora da absolvição. Os Muse entram em palco, num dia especial, muito especial. Ainda não tinham passado por Portugal para apresentar o seu último álbum e os fãs anseiam pela redenção. Mas o entusiasmo vai muito para além de a última vez já ter sido há dois Verões. É que Matt faz 26 anos e os cânticos já começam a ser entoados. Se às 11 da manhã quase só se avistavam junto às grades da entrada do recinto t-shirts de tributo aos Korn e Linkin Park, naquela altura era “Muse” e “happy birthday Matt” que se gritava junto às grades.
À histeria dos fãs correspondeu uma “Hysteria” a despoletar uma sucessão de interpretações enérgicas, profundas e dramáticas, hoje com uma aura especial. Os Muse em palco são condutores de electricidade, que atinge o público e retorna ao palco, numa comunhão enérgica. As pausas entre as músicas são quase inexistentes, a comunicação verbal – falada – com o público resume-se ao essencial; aqui é a música que interessa, servida por um jogo de luzes e poses e interpretações teatrais. Desta vez não houve os papelinhos – também não houve “Feeling Good” – e os balões gigantes, mas havia alguma familiaridade com o espectáculo de Muse, sem existir repetição “daquilo a que os Muse já nos habituaram”.
A certa altura a multidão que ali se reunira remetia metaforicamente para um oceano. Um oceano de suor, de ondas e remoinhos. O remoinho de pessoas em mosh pit e as ondas que eram as pessoas que passavam por cima das filas da frente rumo aos braços dos seguranças. Nem as sonoridades mais calmas dos solos de piano de Matt conseguiram travar esta fúria oceânica. As pérolas que saíam das ostras em palco eram retiradas à vez de Showbiz, Origin Of Symmetry e Absolution, com uma ligeira predominância para o último e ainda forte presença do segundo álbum da banda. As canções foram apresentadas em registos mais ou menos semelhantes aos das gravações, com uma ou outra alteração significativa nas distorções, nos tempos, na entoação.
Obrigatório foi “Muscle Museum” que continua a ser provavelmente o motivo de consenso entre os aficcionados e não-aficcionados de Muse, malha irrepreensível, pérola maior oferecida pelo primeiro e irrepetível – e irrepetido, porque os Muse não se têm colado em demasia a fórmulas – álbum que ainda teve direito a outras revisitações em “Sunburn” e “Dead Star”. De Absolution veio o fabuloso tema “The Small Print”, mas sentiu-se a falta de um igualmente inspirado “Thoughts Of A Dying Atheist” – parece que a noite era mesmo para crentes (de música, que fique claro). A banda de Matt, Chris e Dominic continua a renunciar às sonoridades mais calmas dos registos e “Unintended” não teria por isso lugar num alinhamento que se queria mais pesado e menos equilibrado do que os álbuns. Pela mesma razão terá faltado “Sing For Absolution”, facto que não impediu a absolvição de quem teve direito àquela hora e vinte, sensivelmente, de descargas eléctricas sonoras.
“Endlessly” seria o desejo dos fãs para a duração do concerto, mas a verdade é que quando vemos Matthew destruir a bateria – e sabemos assim que o final se aproxima – nos parece que ainda agora começaram, esquecidos que estão os litros de suor, as compressões sucessivas contra a grade, os pés que nos passam por cima e nos atingem à vez. Mas “Endlessly” não foi mesmo o mote do alinhamento e os Muse fizeram questão de nos presentear com uma despedida única: Matt arranjou lugar para se sentar na bateria, Dominic intensificou ainda mais a energia já demonstrada ao longo do concerto e Chris veio ter connosco, o que lhe valeu uma camisa rasgada, dada a euforia dos fãs. Verdadeira descarga de alta tensão nestes derradeiros minutos, descontinuada pela extenuação decorrente do êxtase e da sucessão de longas horas à espera de uma absolvição que parece pedir novo pecado – porque o regresso é o primeiro pedido que se faz sentir logo após a última nota.
À histeria dos fãs correspondeu uma “Hysteria” a despoletar uma sucessão de interpretações enérgicas, profundas e dramáticas, hoje com uma aura especial. Os Muse em palco são condutores de electricidade, que atinge o público e retorna ao palco, numa comunhão enérgica. As pausas entre as músicas são quase inexistentes, a comunicação verbal – falada – com o público resume-se ao essencial; aqui é a música que interessa, servida por um jogo de luzes e poses e interpretações teatrais. Desta vez não houve os papelinhos – também não houve “Feeling Good” – e os balões gigantes, mas havia alguma familiaridade com o espectáculo de Muse, sem existir repetição “daquilo a que os Muse já nos habituaram”.
A certa altura a multidão que ali se reunira remetia metaforicamente para um oceano. Um oceano de suor, de ondas e remoinhos. O remoinho de pessoas em mosh pit e as ondas que eram as pessoas que passavam por cima das filas da frente rumo aos braços dos seguranças. Nem as sonoridades mais calmas dos solos de piano de Matt conseguiram travar esta fúria oceânica. As pérolas que saíam das ostras em palco eram retiradas à vez de Showbiz, Origin Of Symmetry e Absolution, com uma ligeira predominância para o último e ainda forte presença do segundo álbum da banda. As canções foram apresentadas em registos mais ou menos semelhantes aos das gravações, com uma ou outra alteração significativa nas distorções, nos tempos, na entoação.
Obrigatório foi “Muscle Museum” que continua a ser provavelmente o motivo de consenso entre os aficcionados e não-aficcionados de Muse, malha irrepreensível, pérola maior oferecida pelo primeiro e irrepetível – e irrepetido, porque os Muse não se têm colado em demasia a fórmulas – álbum que ainda teve direito a outras revisitações em “Sunburn” e “Dead Star”. De Absolution veio o fabuloso tema “The Small Print”, mas sentiu-se a falta de um igualmente inspirado “Thoughts Of A Dying Atheist” – parece que a noite era mesmo para crentes (de música, que fique claro). A banda de Matt, Chris e Dominic continua a renunciar às sonoridades mais calmas dos registos e “Unintended” não teria por isso lugar num alinhamento que se queria mais pesado e menos equilibrado do que os álbuns. Pela mesma razão terá faltado “Sing For Absolution”, facto que não impediu a absolvição de quem teve direito àquela hora e vinte, sensivelmente, de descargas eléctricas sonoras.
“Endlessly” seria o desejo dos fãs para a duração do concerto, mas a verdade é que quando vemos Matthew destruir a bateria – e sabemos assim que o final se aproxima – nos parece que ainda agora começaram, esquecidos que estão os litros de suor, as compressões sucessivas contra a grade, os pés que nos passam por cima e nos atingem à vez. Mas “Endlessly” não foi mesmo o mote do alinhamento e os Muse fizeram questão de nos presentear com uma despedida única: Matt arranjou lugar para se sentar na bateria, Dominic intensificou ainda mais a energia já demonstrada ao longo do concerto e Chris veio ter connosco, o que lhe valeu uma camisa rasgada, dada a euforia dos fãs. Verdadeira descarga de alta tensão nestes derradeiros minutos, descontinuada pela extenuação decorrente do êxtase e da sucessão de longas horas à espera de uma absolvição que parece pedir novo pecado – porque o regresso é o primeiro pedido que se faz sentir logo após a última nota.
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