melomanias, etc.

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Guess Who's Back In Town!!! (?)

Esta não podia deixar em branco: PIXIES @SBSR, dia 11 de Junho deste maravilhoso ano de 2004! E ainda achava que os concertos este ano estavam escassos (a nível de qualidade, entenda-se). Resta agora esperar que a promotora do evento (MNC) divulgue os restantes nomes que vão compor o cartaz desse dia que a partir de agora vai ser ansiosamente esperado. Pelo sim, ou porque os dias anteriores estão mais virados para outras ondas musicais (read bad fidelity taste, my humble opinion) convém que sejam coerentes na escolha para o encerramento do festival que este ano tem direito a novas localização e data de realização. Mas (suspiro!) agora já sinto algum alívio, porque seria triste ver um festival com uma tradição tão boa a nível de revelações, estreias e oportunidades ver colapsar assim sob meia dúzia de nomes ligados à mainstream juvenil (não que não tenham direito, mas já tem tantos no resto do ano!!).

Muse, sim foi no SBSR que eles vieram pela segunda vez (que para mim é como se fosse a very first time) a este belo país solarengo, mas no extremo ocidental da Europa. (E bem que podiam regressar agora... mas ao Coliseu, para lhes poder prestar a devida homenagem!).
Zita Swoon, a banda da enigmática-traumática/ traumatizante-magnetizante-e-que-mais figura Stef Kamil Carlens, e que se encontra neste momento (ok, talvez não neste preciso momento, nem necessariamente no próximo... oh, shut up!) a gravar um álbum, que sairá em breve... Espero. A banda-do-vocalista-que-ama-uma-rapariga-bruxinha-chamada-Josie-e-não-a-entende, mas acho que faz todo o sentido - C' Mon!!

terça-feira, fevereiro 03, 2004

Muse. E no caos estará a absolvição.

Muse é uma história de corpos em queda constante, livre apenas metaforicamente, porque essa queda é forçada, e no entanto parece a única opção possível. Falar de Muse é reportar a um conceito musical que é tudo menos pacífico. Muse é sinónimo de intensidade dramática, arrebatamento que nos deixa sem fôlego - e nos desprove de toda a sanidade mental que ainda possuíamos. Muse é o choque, eléctrico, que percorre o nosso corpo, até a tensão não ser mais suportável e o corpo sucumbir de cansaço. Mas Muse é também a luz que nos cega e nos atrai irresistivelmente, com força lunar, para o abismo onde espaço e tempo deixam de fazer sentido. Muse é uma globalidade, mas dentro dessa globalidade não existe lugar para a serenidade. Existe melancolia, tristeza, revolta, raiva e de novo angústia, desepero. Existe amor, desprovido de piroseiras e de floreados, intenso, dramático, estilizado. Porque para os Muse, a música parece ser um exercício de estilo, desiquilibrado, exagerado até, mas partindo sempre da verdade. E é esse dramatismo que confere precisamente o realismo que falta a outras bandas quando se trata de musicar sentimentos. Porque o amor em Muse é sujo, crú, revoltante, mas intenso e belo e de novo cortante e capaz de levar à loucura.

Em Muse nada é o que parece. O mundo assiste a uma conspiração, quando não acontece cada um estar demasiado absorto na sua existência una e sensacionalmente complexa. O universo dos Muse é feito à base de contradições, de pólos opostos que num mesmo tomo se atraiem só para se poderem afastar novamente. O ódio só faz sentido porque existe o amor, e nessa dualidade não existe espaço para lugares idílicos. Outros que cantem a harmonia e a pacificação da alma. Muse é sobre tormento, auto-destruição, num caminho para a única felicidade possível. Paradoxal, mas verdadeiro, porque a vida não é pacífica, e aqueles que mais amamos são simultaneamente os que mais odiamos, precisamente porque não concebemos a vida sem eles.

Mas os Muse deixaram espaço para interpretações paralelas. E há em média uma música por álbum que contraria a mainstream. Que traz consigo algo de pacificador, de redentor, como se por um breve momento fosse alcançado o equilíbrio, para logo de seguida cair de novo, em velocidade vertiginosa. Se algum dia o Mathew Bellamy encontrar o equilíbrio e a harmonia de forma permanente, os Muse acabam. Porque os Muse são o apocalipse do sentimento, a luta interior para esquecer aquilo que se quer porque só nos destrói, mas que inevitavelmente se tem de ter, porque se não a vida nunca terá sentido. Assim uma canção dos Muse é a história de se querer deseperadamente e precisamente aquilo que é pior para nós. Mas só percebemos isso tarde demais. Existe, no entanto, em presença latente a esperança de que com o caos venha a absolvição, de que depois de se esventrarem os sentimentos e nos banharmos em sangue e dor, chegue essa luz, essa lua de presença eterna e pacificadora. Esse amor correspondido.

Cátia Monteiro
2004-02-03
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PS: O post inaugural (o oficial) tinha de ser sobre os Muse. Porque não podia ser sobre outra coisa.
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Meia noite e trinta e sete: melomanias torna-se realidade. Dentro do virtualmente possível...