melomanias, etc.

quinta-feira, abril 29, 2004

Speeding up the limits...

Dia 14 de Maio não vai ser dia de guitarras... Dia 14 de Maio vai ser dia de três chicks em cima do palco, armadas de laptop e muita garra. Na Faculdade de Arquitectura de Lx. Ah, e cuidado que as chicks andam depressa...

domingo, abril 25, 2004

E Por Fim A Violência Justifica-se

Amor e ódio tocam-se. Por vezes entrelaçam-se de tal forma que se perde a noção de onde começa um e já terminou o outro. Mas mais do que amor esta é uma história de possessão. E da inevitável escapatória a essa possessão. É uma história que assenta em algo que define o ser humano enquanto tal - o livre arbítrio. E sim: é fantástica no sentido de que nunca se poderia ter passado assim, mas o que é que isso importa?

Kill Bill - primeiro e segundo tomos - remete para a manga. Tem referências ao Western Spaghetti. Funde os horizontes americano e japonês num multicolorido de sequências de luta desconcertantes e simultaneamente entusiasmantes. Enquanto a personagem de Uma Thurman decepa membros aos seus adversários, há esse jogo morte-vida brilhantemente encenado. É o sangue que jorra por oposição aos membros que caiem no chão. É a energia interior de Uma face ao automatismo de grande parte dos seus adversários. Tarantino abusou do sal. Mas Kill Bill segue uma estrutura e serve-se de um conceito que o justificam. O que é o mesmo que dizer que aqui salgado é q.b.

Se é verdade que Uma parece ter uma sede de vingança inesgotável e que nem a morte latente consegue apaziguar, também não deixa de o ser relativamente à intensidade do seu sofrimento, pela perda de tudo e pela impossibilidade de o recuperar. E apesar do crescente número de cadáveres que vai fazendo jazer pelo caminho, permanece a personagem mais humana que conseguimos encontrar ao longo do filme. Quase como se as motivações que a impelem nos impedissem de a encarar como uma verdadeira assassina. Mas Uma também não é vítima. Uma mulher assim nunca poderia ser uma vítima. E os seus inimigos sabem-no e confirmam-no com a sua própria morte.

A personagem de Uma Thurman em Kill Bill e a de Nicole Kidman em Dogville conhecem-se. Pelo menos uma vez no espaço e no tempo cruzaram-se e reconheceram-se uma na outra. Para além da circunstância óbvia de ambas fugirem do mundo do crime e de pessoas que as amam num sentido que é mais verdadeiramente obssessivo do que propriamente amoroso, são sobretudo as suas personalidades que se tocam. Tanto Uma como outra conhecem humilhações, torturas e sofrimento inimagináveis de suportar pelo comum dos mortais. Ambas começam um percurso dominadas por um jugo que posteriormente desafiam até ao limite das suas forças. Mas enquanto Dogville é sobretudo angústia, Kill Bill é pautado pela acção. Acção que não impede alguma reflexão, mas que anestesia os sentidos e que remete para uma realidade paralela em que o improvável é permanente e o impossível recorrente. Embora Lars Von Trier e Quentin Tarantino pressuponham objectivos diferentes no que toca à reacção provocada pelas suas películas, e usem de meios completamente diferentes para lá chegar, não deixa de ser possível ver aqui dois universos distintos que se tocam e se explicam mutuamente a um nível conceptual.

Kill Bill é estruturado de forma a que a previsibilidade tome em si alguma imprevisibilidade. O que simplificado quer dizer que precisamente no momento em que estamos convencidos de que we've got it all figured out, surge algo na tela que nos deixa perplexos, quase atónitos, pela originalidade e pela improbabilidade latentes. Sabemos desde o início o que vai acontecer. O que desconhecemos é a forma como vai acontecer. E é aí que Tarantino desbrava campo, quer ao nível da estrutura da narrativa, recorrendo a analepses e prolepses, quer no que toca ao desenrolar da acção propriamente dita, em que uma visão mais corrente é pontuada pelo inédito.

O que já não é inédita é a forma como a violência aqui deixa de ser um meio para se transformar num fim. É uma constante ao longo de todo o filme, e é sobretudo física, estando a vertente psicológica mais mascarada. É uma violência exagerada, irreal, e absurdamente estética. Violência que se sucede a um ritmo de tal forma acelerado que não permite ao espectador uma consciencialização absoluta dos seus efeitos. Mas é uma opção que aqui funciona. Porque mais do que uma violência comercial fabricada para grandes sucessos de blockbuster facilmente (e rapidamente) assimiláveis (e esquecidos) e mais do que uma violência de concretização de novas técnicas de efeitos especiais, é uma violência que serve um propósito. Um princípio conceptual que a eleva a um nível quase místico, porque não pretende ser verosímil, mas sobretudo criar um estatuto singular. Na fronteira entre o entretenimento e aquilo que é qualquer coisa que não sabemos bem o que é, mas que não chega a ser nem racional nem justificável (como se a violência pudesse ser qualquer uma delas). Deve ser também aqui que Tarantino afirma a sua diferença. Uma diferença violenta? Um filme diferentemente violento.

Cátia Monteiro
2004-04-25

sexta-feira, abril 23, 2004

Take me 2 Sudoeste!!!

Sim, é mesmo verdade: tenho vindo a "massacrar" os meus amigos com o desejo de que os FRANZ FERDINAND venham ao festival da Zambujeira e, surpresa das surpresas, hoje de manhã o desejo torna-se realidade! Os matutinos confirmam e eu não resisto à delícia de publicar aqui esta notícia ainda tão fresquinha... So if you're lonely, come to sudoeste.

quarta-feira, abril 21, 2004

After all... This is going to be a pretty nice year for my ear(s)

Post pluri-objectival (nem sei se a palavra existe e não me vou dar ao trabalho de verificar):
Objectivo primeiro - colmatar a falha de ainda não ter criado uma AGENDA, e daí o título do post, pelo que aqui ficam algumas datas...

AGENDA PROVISÓRIA

ABRIL

29 - Calexico @ Santiago Alquimista, 18 EUR

MAIO

1 - Olá Love 2 Dance In The Sky @ Pavilhão Atlântico, 28 EUR
6 - Múm+Ornelius Mugison @ Aula Magna, 20 EUR
8 - Lambchop @ Aula Magna, 20 EUR
8 - Elvis Costello @ Coliseu Lx, 20 EUR
13 - Erlend Oye @ Lux
20 - Miss Kittin @ Lux
27 - Scissor Sisters @ Lux (MTV Motomash +Zoot Woman+James Murphy+Richard X)

JUNHO

9 - SBSR - Muse+?+?+? / Da Weasel+Blasted Mechanism+Fonzie+Anger+Yellow W Van
10 - SBSR - N.E.R.D.+?+? / David Fonseca+Gomo+Toranja+Dealema+Patrícia Faria
11 - SBSR - Pixies+Massive Attack+Fatboy Slim+?+Hundred Reasons / X-Wife+Clã+The Wray Gunn+Loosers+Pluto+André Indiana
SBSR - 1 DIA: 38 EUR, PASSE 3 DIAS: 75 EUR

JULHO

10 - Optimus.Hype @ Meco - Moloko
17 - Festival de Lx - David Bowie+The Charlatans

PS: não tentem substituir os "?" por informações concretas. É dúvida que persiste e ignorância que pretendo manter para bem da minha sanidade melómana.

PS#2: é verdade que os Jet e os Kings of Leon vão estar @ Parque da Bela Vista, mas...

PS#3: porque é que os senhores da MNC não olham para o belo cartaz do Primavera Sound e seguem o exemplo? Para quem puder, aqui segue o conselho, em época de Rock In Rio, vá para Barcelona sem sair da Península, é que não há comparação...

Objectivo segundo - congratular-me por finalmente ter recebido feedback ao ainda embrionário melomanias - e de qualidade, sem dar uso à graxa que não tenho - mas também é verdade que só recentemente comecei a adicionar o link aos meus posts dispersos pelas teias da web (com toda a redundância que isto contém). Os meus amigos nem sonham... É a minha forma de os (e nos) poupar ao embaraço de não saber como dizer que "não era bem o que esperava". Enfim, solução de secretismo provisória :-)

Objectivo terceiro - os comentários recebidos têm repercussão naquilo que é o melomanias (a prova disso surgirá em breve). Percebi isso quando aqui cheguei e vi pela primeira vez algum tipo de manifestação àquilo que tinha aqui deixado escrito. Por isso... Deixem as vossas próprias palavras para que isto possa fazer um pouco mais de sentido.

terça-feira, abril 13, 2004

O Memento da minha vida

Ao rever o Memento de Cristopher Nolan, ou melhor, na hora que se segue, procuro na minha memória recordar-me do porquê de este filme em particular me ter marcado de forma tão profunda aquando do primeiro visionamento. Talvez porque este filme é de facto competente a todos os níveis - uma interpretação genial, nomeadamente na parte que toca a Guy Pearce, uma narrativa sumarenta e algo densa, uma estrutura complexa e descontertante. Este é, de resto, o expoente na até agora curta carreira de Cristopher Nolan, que se deseja cheia de bons momentos ou mementos...

Mas o que me leva a revisitar o filme enquanto o comboio segue até ao meu destino não é um ou outro pormenor, algum aspecto que me tenha perturbado ou fascinado. De facto, a minha preocupação, algo consciente, é a de, num trajecto simultâneo entre um passado algo distante e um outro acabado de se passar, comparar e encontrar as diferenças. Mas sobretudo o porquê dessas diferenças. Porque é que aquele que é o meu filme favorito, e que quando vi no cinema há uns anos atrás, não consegue repetir o seu impacto duradouro e deveras marcante... Será que entretanto a fasquia se tornou demasiado alta? Será que o Memento não é um filme que funcione quando visto mais do que uma vez? Não, e definitivamente, não.

Memento é um filme. Memento é mais do que um filme. Muito mais. Para mim, Memento significou o desvirginar para o campo cinematográfico mais alternativo. Foi de resto o primeiro filme que vi que estava em exibição numa única sala lisboeta e não em oito ou nove em simultâneo. Por isso, é um ponto de viragem. O ponto de viragem. Recuando até esse dia, posso dizer que foi o primeiro filme que fui ver com base numa crítica de jornal; e porque gostava do actor principal, esse Guy. Ao procurar o cinema Mundial (a única divisão visionável da Lusomundo em dias que correm), ao entrar na sala, sentia que estava prestes a penetrar numa outra dimensão. E uma vez transposto esse portal não há fuga nem retorno possíveis. Assim, Memento é de facto um momento e uma memória, consolidados num só, funcionando como referência para uma mudança profunda no meu errático percurso de gostos e costumes. E é exactamente por isso que agora, perante a desejada segunda vez, vejo-me incapaz de tornar a sentir o que senti então, com a mesma intensidade e durabilidade. Não ponho, sequer por décimas de segundo, em causa o filme, nem o que me leva a tê-lo no topo do pódio. O lugar pertence-lhe, sem dúvida, agora e sempre, até que outro o tome, inesperada e inadvertidamente. Revejo nele as qualidades que lembrava terem-me deslumbrado nessa época. Mas não posso sentir. Posso sentir outra coisa, mas não aquilo. Aquilo era o efervescer da mudança, o crescimento brutal interior, capaz de me introduzir numa nova dimensão. Aquilo era o perceber que finalmente tinha encontrado aquilo que sem saber procurava. O que eu gostava, mas que ainda não havia provado. E aquele era o melhor gelado de morango com pedaços que já tinha provado. E fresco. E cremoso. Com muitas calorias, capazes de me transmitir uma sensação de saciedade - mental, diga-se, por analogia. Por isso não posso repetir esse momento. Porque de todas as vezes que voltar a pedir um cone com a bola de morango, não será o mesmo gelado, nem eu serei a mesma, e o momento, esse, ficou gravado na memória, quem sabe por quanto tempo e com que fiabilidade.

E por breves momentos desejo sofrer da mesma condição que a personagem interpretada por Guy Pearce, e não ser capaz de preservar a minha memória de curto prazo. E que o meu acidente tenha ocorrido precisamente antes de entrar naquela sala do Mundial. Só para poder repetir esse momento, poder absorver essa atmosfera, deixar a novidade apoderar-se de mim, não como se fosse a primeira vez que provava aquele gelado de morango em concreto, mas de facto a primeira em que o gelado cremoso tocava nos meus lábios. Para poder prolongar o entusiasmo com que contava a minha experiência aos amigos mais próximos e mais pacientes, para poder sentir-me agradavelmente diferente, como quando se experiencia algo de único e especial. Tal como ele procurava sentir de novo o que era acordar e sentir no outro lado da cama o rasto ainda quente deixado pelo corpo da sua amada, também eu procuro fabricar as condições que me permitam reviver um momento que não pode voltar a ser o que foi.

E de qualquer forma, como poderia depois revisitar esse tempo, reviver mentalmente - embora com perda de nitidez, como um beijo distante, de sabor já algo incerto - essa unicidade temporal da minha vida? Prefiro preservar a minha memória. Falível como possa ser, distorcida, mas ainda assim capaz de me levar a questionar o que sinto hoje ao olhar o passado, e perceber que se calhar, embora de maneira diferente, o Memento continua a marcar-me e a dar-me o que pensar... Por dias... E anos.

2004-01-29
Cátia Monteiro