melomanias, etc.

segunda-feira, maio 31, 2004

LER OU NÃO LER? NÃO É A QUESTÃO.

Ler, sem dúvida. Se apraz ao leitor um tipo de escrita fluída e elaborada, onde se narram episódios históricos intercalados com impressões pessoais do autor e registos autobiográficos, imbuídos de interpretação, esta obra é para si. Se prefere um registo histórico seco e exclusivamente factual dos acontecimentos, isento de opinião por parte de quem o escreve, prossiga a leitura; pode ser que mude de ideias.

Em Uma História da Leitura, Alberto Manguel proporciona-nos uma narrativa em dois planos. Estes planos, que surgem de forma intercalar ao longo da obra, materializam-se sob o formato de registo histórico dos acontecimentos, por um lado, e na sua interpretação e comentação através da experiência pessoal do próprio autor. O primeiro plano pode ser encarado como “a História da leitura”, em que viajamos no espaço e no tempo, assistindo ao desfilar de personagens que de alguma forma contribuíram para a constituição do universo literário. Aqui temos acesso a pequenos segredos, episódios fascinantes, que nos fazem sentir que só agora começamos a compreender o acto de leitura em toda a sua complexidade. Em cada um destes episódios, a voz do narrador sofre uma metamorfose e puxa-nos para um espaço mais íntimo, através de um tom confessional. Nesta segunda dimensão, toma forma um elo de ligação entre narrador e leitor, que é ainda mais aprofundado pela instância de este narrador se assumir simultaneamente como leitor, o que invoca um sentimento de cumplicidade. É assim que temos acesso àquilo que se pode designar como “uma história da leitura”, pessoal e, no entanto, partilhada, que, com uma certa ambiguidade, é única, mas universal. Única, porque é a vida do seu autor; universal, porque é também um pouco da nossa e dos outros, pelo que partilhamos em comum num ambiente de cumplicidade – a leitura.

Uma História da Leitura encontra-se dividida em quatro partes principais, sendo as segunda e terceira destas subdivididas em capítulos. A primeira parte, que ironicamente toma o nome de “A Última Página”, dando-nos a sensação de estar a ler o livro de trás para a frente, é uma porta aberta em que o autor nos convida a entrar no seu mundo. Logo neste momento introdutório ele concretiza de forma profunda em que consiste o acto de ler e qual a sua pertinência: “Todos nos lemos a nós próprios e ao mundo à nossa volta para vislumbrarmos o que somos e onde estamos. Lemos para compreender ou para começar a compreender. Não podemos deixar de ler. Ler, quase tanto como respirar, é uma das nossas funções vitais” (p.21). Transporta-nos para o mundo da sua infância, contando como decorreu a sua descoberta das letras e dos livros. Esta era também uma descoberta de histórias, com tanta importância como a vida real, que lhe permitiam viver uma vida paralela àquela em que constantemente viajava de terra em terra, sem um lar fixo. Os livros eram ao mesmo tempo evasão e refúgio, algo que permanecia imutável no espaço e no tempo, embora o sentido apreendido mudasse a cada nova leitura.

A segunda parte deste livro, denominada “Actos de Leitura” é constituída por dez capítulos, em que o processo de leitura é analisado sob as mais diversas perspectivas, tendo por base teorias, experiências, relatos, e estabelecida uma ponte para uma análise mais profunda e pessoal. Diversas especificidades da leitura, dos seus leitores e também da escrita são abordadas, desde a diferença entre a leitura silenciosa e em voz alta, aos vários tipos de escrita e suporte escrito que foram surgindo. Através destes relatos, Alberto Manguel desmistifica alguns dos aspectos que são para nós, óbvios, mas que não o eram certamente há séculos atrás. Um exemplo é a leitura silenciosa, que em tempos não era de forma alguma a usual, pelo que oportunamente o narrador nos chama a atenção para que tipo de ambiente se viveria numa biblioteca dessa altura. As imagens não são esquecidas; linguagem universal, compreensíveis mesmo por aqueles que não estão familiarizados com a alfabetização, fenómeno de resto muito restrito até há bem pouco tempo. A intertextualidade é um dos alvos de maior enfoque. Quando lemos um livro, não obstante a nossa aparente solidão, estamos rodeados por uma multidão – aqueles com quem partilhamos aquela leitura. Ler é fazer parte de uma sociedade gigantesca e infinita, tal como aqueles que nunca conhecemos pessoalmente, mas com os quais partilhamos essa experiência mística de unidade.

A terceira parte, “Poderes do Leitor”, trata a relação entre leitores e os seus livros, ao longo de outros dez capítulos. Num deles, “Os Ordenadores do Universo”, é contado um episódio delicioso, quase em tom caricatural, com que alguns leitores se podem identificar. “No século X, (...) o grão-vizir da Pérsia, Abdul Kassem Ismael, para não se separar em viagem da sua colecção de 117 000 volumes, mandou transportá-los numa caravana de quatrocentos camelos treinados para caminharem em ordem alfabética” (p.201). Uma forma no mínimo original de catalogação e transporte de uma autêntica biblioteca! O desejo de posse de um livro, a interdição sexista e racista à leitura ou a certos tipos de leitura, bem como uma série de outros tópicos não menos interessantes, servem de pretexto para relatos cómicos como este ou para outros um tanto mais amargos. Uma pluralidade que dá ainda mais valor ao produto final, uma mensagem do escritor para o leitor, uma confissão de leitor para leitor, onde cada citação se articula de forma perfeita, como se ao retirar as marcas que a identificam, esta ficasse imperceptível num todo coerente e pertinente.

Não posso deixar de referir a última parte desta obra, “Páginas de Guarda”, que se traduz numa metáfora do autor como leitor da sua obra, quando ele próprio não a havia ainda escrito. É uma espécie de exercício mental em que nos convida a imaginar a alternativa ao texto que temos em mãos, a possibilidade não concretizada. Pormenor interessante é que esta obra imaginária tem um título ligeiramente diferente, o que no entanto tem implicações profundas. O seu título é A História da Leitura, e o seu conteúdo (é-nos sugerido) infinito, abarcando todas as leituras, em todos os tempos e lugares.

Assim, Uma História da Leitura conduz-nos por lugares e tempos distantes, que se actualizam no aqui e no agora, tendo a leitura como referente sempre presente e o livro como acessório fundamental. Estas são algumas das motivações que o levam agora a si, leitor, a obter um exemplar desta obra e a saboreá-la no seu recanto secreto... Ou talvez não.

Cátia Monteiro
Dezembro 2003
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OLDIES

Mais um post para a secção de OLDIES, a provar que a escrita, bem como a leitura, é intemporal... O registo é ligeiramente (há com certeza quem o irá achar radicalmente) diferente daquele que costuma pautar este melomanias, mas isso explica-se facilmente pelo contexto em que foi produzido: uma recensão para a cadeira de Técnicas de Expressão do Português.

Em nota de rodapé, melomanias a inaugurar a sua faceta literária, uma das muitas faces deste bloco de notas virtual...

quinta-feira, maio 27, 2004

Top Of The Tips

O post de hoje é dedicado a dicas para hoje e próximos dias, em especial aquelas que por razões óbvias não têm direito a entrar na (A)Live.

Hoje às 18h00 @ Fnac do Chiado vão estar os Scissor Sisters, para conversar com quem por lá aparecer e responder a algumas perguntas dos jornalistas. Porque não ver a banda em antecipação à grande noite que se promete para hoje no Lux? A propósito: hoje o Lux abre as portas às 21h00 e a agitação vai começar às 22h00. Para quem está habituado a chegar por volta das duas, três da manhã, é melhor repensar hábitos ou não vai ver os Scissor Sisters... Para o programa completo, o melhor é checkar a (A)Live - scroll down, please!

Neste Sábado há nova edição do BA Outlet (último Sábado de cada mês): é às 10h @ Jardim de São Pedro de Alcântara (junto ao ascensor da Glória)e prolonga-se pelo resto do dia.

Ainda no Sábado, mas às 20h e inside programming é o especial de cinema da MTV que passa às 20h00 e é dedicado ao making of do Kill Bill, com entrevistas a Quentin Tarantino - o relizador obsessivo - e a Uma Thurman - a musa objecto da obsessão do realizador obsessivo.

Ah! E a Feira do Livro de Lx vai estar por aí (diz-se que é num tal de Eduardo VII) até 10 de Junho. Um belo incentivo ao aumento dos níveis de literacia.

quarta-feira, maio 26, 2004

Welcome To The Monkey Southwest!

Mais uma banda confirmada para o festival mais esperado por estas bandas (melomaníacas, entenda-se). Os Dandy Warhols, os que lançaram recentemente "Welcome To The Monkeyhouse", os que já andaram na Gare do Oriente a tirar fotografias (confiram no site oficial)e esses mesmos que têm aquela música que serviu de BSO àquele anúncio daquela operadora de telemóveis... "Bohemian Like You" foi concerteza a canção mais tocada desse ano, mas pareceu não ser suficiente para trazer estes meninos (e menina) logo ao nosso país. Houve uma data marcada para o Verão há uns tempos atrás para a Praça Sony, mas o concerto não teve praticamente difusão nenhuma e pouco tempo depois foi cancelado...

Mas agora, e com mais um álbum na bagagem, os Dandy Warhols vão mesmo passar pelo nosso país para tocar, mais concretamente no dia 6 de Agosto na Zambujeira do Mar. E apropriando-me de um título de uma das melhores canções deles: "Not If [They] Were The Last Junkie[s] On Earth" I would miss this!

domingo, maio 23, 2004

Mo(o)re Polémica...

Michael Moore recebeu ontem a Palma de Ouro do Festival de Cannes pelo seu documentário "Fahrenheit 9/11". A Lusa avança ainda que o presidente do júri, Quentin Tarantino (até me admira como é que o prémio não foi para uma qualquer película onde surgisse a Uma Thurman!) assegurou a Michael Moore que a escolha não tinha qualquer cariz político: "queremos que saibas que os aspectos políticos nada tiveram a ver com o teu prémio. Não estamos aqui para atribuir um prémio político. Neste júri, temos opiniões políticas diferentes. Alguns não têm opiniões políticas". Será que a Uma não surge mesmo, por segundos que seja, neste novo documentário de Moore? Já que não é de política que se trata...

Mais interessante é a resposta da Casa Branca, segundo a qual o facto de "Fahrenheit 9/ 11" ter ganho a Palma de Ouro demonstra que os EUA são «um país livre», onde «cada um tem o direito de dizer o que quer». Desde que me lembro Cannes fica no sul de França...

Mas a trama adensa-se, dado que já era do conhecimento público que o grupo Walt Disney e o presidente do seu conselho de administração, Michael Eisner haviam recusado alinhar neste manifesto "anti-Bush" e desde então o documentário ficou sem contrato de distribuição para os EUA.

Quanto tempo demorará o "país livre" do Sr. Bush a distribuir um documentário que começa agora a ter reconhecimento internacional, realizado por uma personagem notória e notada pela sua abordagem sui generis de um norte-americano ao país norte-americano? É que se "cada um tem o direito de dizer o que quer" parece que o melhor é que o faça baixinho, ou pelo menos que fique lá por fora, porque os norte-americanos na sua generalidade não têm sido muito dados a auto-críticas.



Take Them On To Paredes de Coura!

Já se sabe quem vai fazer companhia às Irmãs Tesoura no anfiteatro natural de Paredes de Coura. Os Black Rebel Motorcycle Club, vão marcar presença no palco principal no dia 19 de Agosto, segundo avança o FórumSons (post comment edit: tendo como fonte o musica.clix.pt). Ainda não se sabe se o Eduardo Depp, amigo das Irmãs Tesoura vai passar por lá ou não, mas consta que há muitas sebes por podar - ainda bem que as Irmãs Tesoura não vão antes para o Sudoeste alentejano (!).

Os BRMC estiveram em PT no mesmo Sudoeste dos Muse, Cure, Air... É só impressão minha, ou há aqui um efeito de repetição?! Começo a achar que a melhor forma de saber quais os cartazes de Verão para este ano é consultar os cartazes de 2002...

Pertinente questão aquela que nos põem: "Whatever Happened To My Rock 'n' Roll?" Alguém quer delinear respostas?

Departamento da Alegria é no 2º Frente...

Já por alturas da estreia do "24 hour Party People" o Moby se tinha manifestado muito agradado com este filme/ documentário, tendo mesmo uma citação sua sido aproveitada para slogan dos cartazes que foram colados out doors: "Fenomenal". O filme com o nome de uma canção dos Happy Mondays realizado por Michael Winterbottom deve ter deixado Moby com vontade de participar em algo do género. Surge agora a notícia de que o músico vai produzir a BSO de um filme dedicado à memória de Ian Curtis. É também avançado que Moby irá ser o narrador do filme/ documentário em questão produzido pela Amy Hobby e com a colaboração de Neal Weisman, amigo do antigo dono da editora Factory Records, Tony Wilson. Mas ainda falta algum tempo para vermos os resultados, dado que o filme só vai começar a ser rodado por inícios de 2005...

Ainda a propósito dos Joy Division: será que existe alguma relação directa entre a "Disorder" dos álbuns "Unknown Pleasures" e "Heart and Soul" e a "Disorder" que passa frequentemente pelo Lux? Fica a resposta para breve...

terça-feira, maio 18, 2004

Que horas são? Horas de Palco Secundário!

O alinhamento dos concertos @ SBSR já é conhecido...

09 de JUNHO

PALCO SUPER BOCK
18H00 - PLEYMO
19H05 - STATIC-X
20H20 - MUSE
22H10 - LINKIN PARK
00H10 - KORN

PALCO QUINTA DOS PORTUGUESES
17H00 - Vencedor Passatempo Roland
17H30 - FONZIE
18H45 - YELLLOW W VAN
20H00 - ANGER
21H40 - BLASTED MECHANISM
23H30 - DA WEASEL

10 de JUNHO

PALCO SUPER BOCK
18H00 - LOS HERMANOS
19H15 - REAMONN
20H35 - AVRIL LAVIGNE
22H10 - NELLY FURTADO
00H15 - N.E.R.D.

PALCO QUINTA DOS PORTUGUESES
17H00 - BOITE ZULEIKA
17H30 - PATRICIA FARIA
18H55 - DEALEMA
20H10 - GOMO
21H40 - TORANJA
23H45 - DAVID FONSECA

11 de JUNHO

PALCO SUPER BOCK
18H00 - LIARS
19H25 - HUNDRED REASONS
21H00 - PIXIES
23H05 - LENNY KRAVITZ
01H10 - MASSIVE ATTACK
03H00 - FATBOY SLIM

PALCO QUINTA DOS PORTUGUESES
17H00 - LOOSERS
17H30 - X-WIFE
18H55 - ANDRÉ INDIANA
20H30 - WRAY GUNN
22H35 - PLUTO
00H40 - CLÃ

Sim, sim... Substituí os "?" pelos nomes das bandas, what a shame...
Este alinhamento vai implicar alguma habilidade para conseguir seleccionar de palcos principal e secundário as bandas desejadas. Algumas vão ficar de fora... (Quais as vossas angústias na hora de escolher?)

Principais entraves a uma perfectly enjoyable night @ Parque do Tejo vão ser a colocação dos Muse a meio da noite e não poder ver X-Wife porque estão em hora conflituante com a dos Liars. Lá terá de ser... Também já seria a terceira vez enquanto os Liars são estreia.

Mas enfim... Os Muse têm direito a 1h50 à qual serão descontados obviamente os tempos de montagem e desmontagem de palco, mas tendo em conta que o concerto da Aula Magna durou 45 minutos, parece-me que vai chegar:-) Aproveito para ver ainda um pouco de Blasted Mechanism e os Da Weasel. A propósito da banda mais mediatizada do hip-hop tuga, mais alguém acha que o novo single está muito "estranho", só para não ser um pouco mais drástica? My question is: depois da campanha do Mc Donalds e com este belo novo single, nem quero ver onde a banda vai parar - é só mais este concerto, para confirmar. Acho que a mistura de junk food com demasiados anti-histamínicos está a ter os seus efeitos... É o equivalente ao "sexo, drogas e rock & roll" que aqui pode tomar-se como "hamburguers, aspirinas e hip-hop". De qualquer forma, tudo é um bom pretexto para fugir às duas últimas bandas do palco principal. Em nota final para este dia é pena ir perder os Yellow W Van, mas Muse tem de ser mesmo à frente.

10 de Junho - Excelente - Vai-se ouvir a "Ana Julia" porque é um clássico das noites de Lx, depois foge-se para o palco secundário até os Nerd chegarem. Nada mais simples. É que Gomo, Toranja e David Fonseca têm mesmo de ser.

O último dia é o do grande regresso... Os Pixies são a banda obrigatória da noite, mas também os Liars, os Massive Attack e Fatboy Slim... E se boicotassemos o Lenny Kravitz? Íamos buscar os X-Wife, os Wray Gun, os Pluto, os Clã... Bom há mesmo muita coisa boa no palco secundário que é bastante superior a alguns do principal, mas com já disse, os critérios da MNC são-me alheios... Pode ser que se redimam agora no Sudoeste que ainda só tem coisas boas no cardápio... E muito boas, indeed.

terça-feira, maio 11, 2004

Ares que sopram da Zambujeira...

O grande festival do ano tem novo nome confirmado: e não é que era o último que eu andava a pedir no sapatinho?

AIR - depois do recente lançamento de Talkie Walkie e já com uma série de grandes álbuns na prateleira vão tocar no último dia do festival da Zambujeira do Mar: 8 de Agosto. Há quem diga que os Air ao vivo não são a mesma coisa, e que o outro concerto deles no Sudoeste foi uma desilusão... Não importa, I'll be there e o melomanias servirá de testemunho posterior. A música electrónica ao vivo nem sempre funciona muito bem, mas os Zero 7 contrariaram essa tendência no passado concerto do Coliseu de Lx. E os Air só lhes estão atrás na sequência temporal com que lançam as suas fórmulas musicais (uma sequência cronológica, claro, em que "atrás" remete para anterior)...

A crítica gostou do álbum deste ano. A crítica não era muito fã de 10 000 Hz Legend. A crítica queria um "verdadeiro" sucessor de Moon Safari, é que parece que a lenda tinha sintetizadores a mais. Sinfónico, diziam uns. Forçado, parecia a outros. O tempo e a história da música têm-se encarregue de provar que:
a) São os artistas que introduzem algo de original que marcam uma viragem e se tornam influências;
b) São os artistas que conseguem evoluir em várias direcções - por oposição à estagnação do uso recorrente a uma fórmula já gasta - de forma competente e inovadora, que são alvo de reconhecimento, pelas suas capacidades multi-qualquer coisa, e pelo seu ecletismo musical.
c) Se os primeiros surpreendem pela originalidade e os segundos pela originalidade com que misturam o que já não é (tão) original, e passando ao lado de outras categorias possíveis, mas desprovidas de interesse para o assunto de que aqui se trata, os Air inserem-se nesta categoria que mistura originalmente originalidade com originalidade.

E para quem ficou confuso, eu explico: Moon Safari surpreendeu. Gerou influências sobre a electrónica que se tem vindo a fazer entretanto (a referência aos Zero 7 mais "atrás" não surge por acaso). Na banda sonora que se lhe segue, As Virgens Suicidas a fórmula é reutilizada, mas no sentido de uma reciclagem adaptada ao próprio filme de Sofia Coppola. Sonoridades etéreas, e em que a voz só pontualmente surge, num Playground Love pueril, mas de algum modo consciente ou numa montagem de vozes do filme que reavivam as imagens para quem viu a primeira longa-metragem de Sofia Coppola. No safari lunar a voz evidenciava-se mais, e as canções tomavam corpo, no verdadeiro sentido de canção, não tão pura sonoridade.

Mas 10 000 Hz Legend veio quebrar este ciclo harmonioso de um veludo sonoro. Trouxe ironia, excelentes colaborações com Beck - e é de facto o álbum que justifica a proximidade entre a música de ambos - trouxe diferença que foi para muitos incomportável porque não pareciam os mesmos Air. Confesso, 10 000 Hz Legend foi o primeiro álbum d Air que conheci. Por isso não tinha motivos para ficar chocada. Face à ausência de preconceitos sonoros, fiz o que podia fazer: adorei. Adorei o "How Does It Make You Feel?" que já conhecia e cuja frase final desconcertante não o é em dose suficiente para anular a sensação romântica deixada pela letra da canção. O "Don't Be Light", que é aquela incógnita expressão para "não sejas leve/luz" (mas é bom ficar confuso). O Beck que lá surge, aqui e no "The Vagabond" é como só ele consegue ser - e se o "Don't Be Light" tem um Beck mais à la Air, já no "The Vagabond" tem-se um Beck à la Beck que surge num álbum dos Air. "Radio #1" é um caso especial: se inicialmente gostava da canção pela facilidade com que se trauteava o refrão, depressa me cansei e comecei a abominá-la, por fácil demais. Engano meu. Após posterior análise, e dado que me vi na necessidade de fazer aquilo a que frequentemente me escuso e que é a racionalização dos meus likes & dislikes musicais, fiz aquilo a que se poderia chamar ouvir nas entre-pautas. É que esta canção é muito provavelmente uma das mais irónicas que os Air já compuseram e embora não tenha mesmo assim entrado para a lista dos favoritos, merece o crédito que os críticos não lhe têm dado. A ela e às outras desse abominado disco.

Depois da lenda sonora viajei para a lua, conheci as virgens mesmo antes de se suicidarem (ou seria depois?), e os sintomas que estiveram na origem de tudo... Depois fui conhecer os remixes da lenda e mais tarde aquele aparelho que serve para comunicar, mas não é um telemóvel... Falta-me conhecer as leituras citadinas do italiano Alessandro Barrico sonorizadas pelos Air. Mas it's been a long way together e parece-me que tive a sorte de me surpreender sempre de forma positiva com cada novo punhado de canções destes franceses que iam entrando na minha discografia pessoal.

E isto tudo só porque o Blitz disse que o Diário Digital tinha dito que o site oficial dizia, mas a MNC não confirmara ainda que os Air vão estar no Sudoeste Alentejano este Verão. Foi há dois anos e será agora de novo. E quero vir aqui dizer, depois desse dia 8 de Agosto, que os meus amigos não tinham razão (só desta vez, não se zanguem) e que os Air ao vivo continuam a ser uma grande banda.

Ficam prometidas mais digressões aéreas para breve. As companhias aéreas têm andado a fazer promoções especiais para destinos que têm cumprido (e bem) as expectativas. E quando os aviões não chegarem lá, we can always go "surfin' on a rocket".

segunda-feira, maio 10, 2004

VIRTUALIDADE MUSICAL

GORILLAZ: FENÓMENO EFÉMERO OU REVOLUÇÃO FUNDAMENTAL?

Até que ponto não é a música o núcleo de todo um universo virtual? Desde a criação dos efémeros fenómenos comummente designados por boysband, girlsband e afins, através de inteligentes processos de marketing, até aos mitos que se formam com a morte inesperada de estrelas promissoras, muitas seriam as vertentes que poderia abordar acerca deste tema. Mas tendo em conta a realidade musical que se vive actualmente, seria mais do que lógico debruçar-me sobre um fenómeno que tem vindo a registar uma aderência talvez inesperada. De facto, se na cena musical, a propósito de diversos aspectos se pode invocar a palavra “virtual”, ela encontra nos Gorillaz a sua aplicação perfeita.

Os Gorillaz não são pioneiros no conceito que nos propõem. Na realidade, já existiam outras bandas e cantores virtuais, que nos remetem para o que se pode apelidar de “equivalente da Manga na música”. A diferença reside no facto de que eles foram os primeiros a atingir este tipo de sucesso à escala mundial. E este sucesso não é concerteza fruto do acaso. Muito pelo contrário, este projecto baseia-se numa fantástica campanha de marketing, que tem como intuito principal, para além da divulgação da música dos Gorillaz (como é óbvio), vender inúmeros produtos baseados na imagem deste grupo e no impacto que conseguiram obter em todo o mundo. Assim, desde as tradicionais t-shirts, posters e autocolantes às longas-metragens e jogos de vídeo, bem como uma série de outro merchandising, tudo vale num mundo essencialmente comercial. Desta forma, conseguiram revolucionar o mercado através da negação da “receita tradicional para o sucesso” – uma carinha bonita, uns passos de dança e a devida publicidade – obtendo uma enorme aceitação por parte de um público mais alternativo. Mas o seu sucesso não se baseia apenas em marketing, visto que a sua componente principal assenta na qualidade da música produzida por esta banda.

Por detrás deste projecto musical, podemos encontrar nomes como Damon Albarn (que encarna a personagem 2D), Dan “The Automator” Nakamura (Murdoc), Del Tha Funkee Homosapien (Russel) e Miho Hatori (Noodle), se bem que na realidade há muitas outras pessoas directamente envolvidas. A sonoridade dos Gorillaz abrange uma multiplicidade de influências, desde o pop, hip-hop e dub, a uns laivos de música cubana, podendo mesmo distinguir-se o noise rock e o reggae, conjugados numa brilhante produção, onde a doce voz de 2D deixa transparecer um lado mais pueril e mesmo naïve. A prova do seu alargado sucesso é sustentada pela enorme quantidade de prémios e nomeações de que têm vindo a ser alvo.

Ao “esconderem-se” por detrás de quatro bonecos tipicamente BD, os autores deste projecto deram origem a um universo virtual. O facto de actuarem ao vivo por detrás de uma tela onde são projectadas imagens, enfatiza essa atmosfera de virtualidade. Assim surgem biografias criadas para cada um dos membros, bem como um role de notícias e boatos acerca deles, como se 2D, Murdoc, Noodle e Russel fossem tão reais como qualquer outra personalidade musical.

Quanto a mim, só posso deixar ficar uma última questão: serão os Gorillaz apenas mais um efémero fenómeno pop (não deixando por isso de ter lugar de destaque no panorama musical), ou serão eles capazes de criar as bases necessárias para sustentar um projecto a longo prazo? Virtualmente falando, tudo é possível.

Cátia Monteiro
2001-10-31

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Este vem directamente da secção de oldies :-)Foi escrito em 2001 para um projecto que acabou por não arrancar, de verdadeiramente virtual, o Ponto.Com. Fica o esforço que serviu de esboço (ou esquisso) para divagações futuras. E confesso: não tenho ouvido muito o álbum dos Gorillaz... Mas continuo a admirar o Damon Albarn, incontestavelmente músico, compositor e cantor de abrangências diversas e qualitativamente bem cotadas.

Parece-me que o último parágrafo do texto está mesmo a pedir uma resposta. Deixo o mote à interactividade bloguesiana!

quinta-feira, maio 06, 2004

Bowie 300 km a norte ... de Lx

De Festival de Lx passa a Festival do Dragão e do Pavilhão Atlântico muda-se para o Estádio do FCP.

Ok, ponto da situação: o Santana está mais virado para o Brasil, agora com extensão até ao Parque da Bela Vista e como a organização do Festival de Lx (Tournée) considerou não ter apoios suficientes, mudou-se nada mais nada menos do que para o Estádio do FCP (!?). Se por um lado é bom que haja uma certa descentralização dos festivais, por outro a forma como este processo está a decorrer não parece muito matura ou ponderada. Enfim... Parece apenas mais um elemento para a longa querela entre Lx e Porto cuja existência, em primeiro lugar não faz sentido, mas que acaba por ser alimentada por futebóis e tvs regionais e coisas como esta.

Na verdade, embora tenha consciência de que vai ser mais difícil ir ver o Bowie, até me agrada fazer uma viagem ao Porto, preferencialmente se conseguir passear um pouco pela cidade. Afinal já espero há tanto tempo para lá ir... Como o concerto calha a um Sábado talvez seja possível fazer uma viagem de fim-de-semana inteiro. Até calha bem, só é pena que pelos motivos errados.

Um ponto positivo, no entanto, é o preço: 30 EUR para um dia com um cartaz "pesado" que comparativamente aos preços que se anunciam para outros festivais, parece ser uma quantia mais justa e mais justificável. No entanto, o passe para os três dias já não é um negócio tão favorável...

Mas o que interessa é que o Bowie vai estar em PT e vem acompanhado por outras bandas também bastante apetecíveis, nomeadamente os Charlatans... Por isso, nesse dia, todos os caminhos vão dar... vocês sabem como a frase acaba.

sábado, maio 01, 2004

(A)LIVE

MAIO

1 - Olá Love 2 Dance In The Sky @ Pavilhão Atlântico, 28 EUR
6 - Múm+Ornelius Mugison @ Aula Magna, 20 EUR
8 - Lambchop @ Aula Magna, 20 EUR
8 - Elvis Costello @ Coliseu Lx, 20 EUR
13 - Erlend Oye @ Lux
14 - Chicks On Speed @ Faculdade de Arquitectura Lx, 12,50 EUR
20 - Miss Kittin @ Lux
23 - Clã @ Fnac Colombo, 18h00
27 - Scissor Sisters @ Lux (MTV Motomash=Zoot Woman+James Murphy+Richard X+Damian Lazarus+Dezperados+Disorder+!K7ClashSystem+SST&Superdefekt+Insignificant Others), 25 EUR
29 - Hipnótica @ Fnac Colombo, 17h00

JUNHO

9 - SBSR - Muse+?+?+? / Da Weasel+Blasted Mechanism+Fonzie+Anger+Yellow W Van
10 - SBSR - N.E.R.D.+?+?+?+Los Hermanos / David Fonseca+Gomo+Toranja+Dealema+Patrícia Faria
10 - Yann Tiersen @ CCB, 27,50 EUR
11 - SBSR - Pixies+Massive Attack+Fatboy Slim+Liars+?+Hundred Reasons / X-Wife+Clã+The Wray Gunn+Loosers+Pluto+André Indiana
SBSR - 1 DIA: 38 EUR, PASSE 3 DIAS: 75 EUR
18 - Hipnótica @ Frágil

JULHO

10 - Optimus.Hype @ Meco - Moloko + The Mathew Herbert Big Band+Break Reform+
Jazzanova / Clara Hill+Dubadelic Vibrations+Âme+The Deal+Pedro Viegas+Yari+Pit Bull+Otto
17 - Festival do Dragão (?!) - David Bowie+The Charlatans+Starsailor+Leah Wood+?, 30 EUR
16 - Vilar Mouros - Chemical Brothers+Peter Gabriel+Eagle Eye Cherry
17 - Vilar Mouros - The Cure
18 - Vilar Mouros - PJ Harvey+Bob Dylan+Polly Paulusma
Macy Gray+Gary Jules em data tbc
VM - 1 DIA: 30 EUR, PASSE 3 DIAS: 50 EUR
AGOSTO

6 - Sudoeste - Franz Ferdinand+Dandy Warhols
8 - Sudoeste - Air
Sudoeste - Kraftwerk (tbc)
S - 1 DIA: 30/ 35 EUR, PASSE 4 DIAS: 50/ 55 EUR (tbc)
17 - Paredes Coura - The Roots+Arrested Development+Culture
18 - Paredes Coura - DKT/MC5 / Howe Gelb
19 - Paredes Coura - BRMC+Scissor Sisters / Mark Eitzel
PC - 1 DIA: 30/ 35 EUR, PASSE 4 DIAS: 50/ 55 EUR (tbc)
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P.A. (pOST aDJENDA): O primeiro post de cada mês (ou não) vai ser preenchido, a partir de hoje, com a aDJENDA - (A)LIVE, que irá sendo actualizada ao longo do mês. Por isso vai ser uma espécie de post permanente. Por isso, já sabem, para as novidades ao vivo é scroll down...

P.A. 2:Maio é definitivamente o mês da electrónica. Começa já daqui a algumas horas com Olá Love 2 Dance In The Sky e promete prolongar-se com o cartaz (deliciosamente) recheado do Lux, sem esquecer a passagem das Chicks On Speed que estiveram cá em Sudoeste último... Uff! Os Múm fazem a ponte entre sonoridades mais electrónicas e outras, e as restantes propostas são de alta qualidade. Resta saber como conseguir ir a todas...

P.A. 3: Os cartazes de Verão começam agora a ser delineados, como já é habitual. Mas a válida preocupação que começa a ser manifestada pelos melómanos é relativa à inflacção dos bilhetes, que não tem sido tão reduzida quanto isso. A justificação não passa com certeza por improvements nas condições dos festivais, inexistentes que são. E a julgar pelo preço do SBSR, os restantes festivais não deverão andar longe... Este ano é singular, dado que permite essa política de preços. O Euro atrai os estrangeiros que acabam por comparecer em massa nos festivais (ainda mais do que o já habitual). Mas e no próximo ano? Será que é só de mim, ou a tendência já manifestada no último ano é a de redução de oferta ao nível dos grandes festivais de Verão? Surge o Festival de Lx, é certo, mas como já referido este é um ano especial. E os pequenos festivais têm brotado, com uma oferta variada e alternativa, mas num âmbito diferente dos grandes de Verão. Espero é que a MNC não se esqueça de que para o ano não há Euro de futebol em PT e vai ter de contar com a maioria portuguesa para encher os seus recintos festivaleiros. E isso vai depender em grande medida da política de preços. É que, para todos os efeitos, ainda não vi este ano em PT um cartaz que se compare ao Primavera Sound dos nuestros melómanos daqui do lado. E que bem que sabia fugir do Rock In Rio Lx para mergulhar em Barcelona nesses três diazinhos... Então agora, que até se comemora o centenário do nascimento de Salvador Dalí...